Obrigada companheiros! Vocês foram maravilhosos!! |
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É interessante essa posição do professor de chegar e ter um aluno com necessidade especial. Ele olha para o aluno e pensa: o que vou fazer? Porque nós não temos nenhuma formação, nem nós que somos mais antigas, nem os novos. Então não sabemos como essa inclusão vai acontecer. Então, entregam para você o diário de classe e você vai para a classe e se vira (Maria).Conforme se pode observar, as duas professoras entrevistadas, que atuam em classes regulares em que se encontram alunos com necessidades especiais, expressam a percepção de que para trabalhar com a inclusão é necessária uma formação específica e que, sem a qual, o professor passa a ser uma vítima no processo, tão excluído quanto o aluno, visto não acreditar que tenha condições de levar adiante sua tarefa.
Eu me sinto assim, meio que sem condições, não tenho preparação para trabalhar com a inclusão (Ilana).
Então eu acho que o professor tem que estudar mais, é uma classe que, além de desunida, não vai estudar, só vai quando vai perder alguma coisa. Além de que, eu não acredito nesse governo paternalista que dá tudo para o professor, que é obrigado a te dar um curso de formação para o trabalho e em horário de trabalho, porque se você oferecer fora do horário de trabalho, a pessoa não vai! (Luciana).Letícia, a outra professora de classe especial, relatou em vários encontros que tem muita dificuldade em propor alguma atividade para as professoras que têm alunos de inclusão, pois muitas vezes elas não aceitam. Relatou, também, que muitos dos professores preferem que ela tire o aluno da sala, do que trabalhar eles próprios com o aluno, a partir das orientações que Letícia pode oferecer (observações registradas em Diário de Campo).
Colocam um outro profissional especializado para tentar suprir essa defasagem do professor, porque se todos professores recebessem capacitação em Educação Especial não precisaria da gente aqui (das professoras da Educação Especial). Então eles não te dão o curso, mas colocam profissionais na escola. Eu não aceito essa fala do professor, de que não é capacitado para atender o aluno, não aceito. E ainda quando a gente quer dar uma ajuda, eles não aceitam (Luciana).
Professora Maria relata que Márcio dá muito trabalho, pois não quer ficar dentro da sala de aula, além de falar muito alto e querer tirar a roupa dentro da sala, e isso está atrapalhando o desempenho dos outros alunos. Maria, no decorrer da aula, me perguntou se existia alguma lei que regulamentava a frequência de Márcio na sala de aula, e que também deveria ter alguma lei para defender os outros alunos, pois estavam sendo prejudicados pelo contato com Márcio (Observações registradas em Diário de Campo - 30/7/2009).A fala da professora apresenta aspectos relevantes, no que concerne à sua percepção sobre inclusão: um deles é o fato de não conhecer as políticas públicas de inclusão. Nesse sentido, fazemos o seguinte questionamento: Como uma professora poderá participar do processo de construção de políticas públicas, a fim de melhorar suas condições de trabalho, se ela mesma não tem conhecimento dessas políticas?
Então... eu acho que o processo de inclusão é válido [...], mas é claro que tudo é em cima de interesses. O Brasil não entrou nesse processo de inclusão porque ele percebeu que o deficiente precisava sair da estagnação, da segregação que ele estava, mas ele entrou porque o governo recebe verba do exterior. Então a inclusão favorece o país (Luciana).Observa-se como as professoras de Educação Especial, Luciana e Letícia, assumem uma postura mais crítica em relação à inclusão: uma questiona os reais motivos das políticas públicas em promovê-la, enquanto a outra critica a postura dos professores e aprova as políticas na medida em que "obrigam" a escola a se envolver com a questão da Educação Especial. De outro lado, a professora Ilana, de classe regular, entende que a inclusão é válida por promover a socialização não só do aluno, mas dos demais atores da escola e revela que a inclusão não inclui, pois entende que a aprendizagem do aluno não ocorre e não tem como ocorrer. Esse fato conduz a outro questionamento: será possível incluir apenas promovendo a socialização do aluno? Acreditamos que não, pois incluir equivale a propiciar ao sujeito incluído o acesso a todos os bens de cultura oferecidos aos demais alunos. Logo, se é possível às demais crianças aprenderem, para que a inclusão se efetive, o aluno com necessidades especiais também deve acessar esses conhecimentos, apropriando-se deles e cabe à escola encontrar formas de promover essa apropriação.
É aí que entra no legal da inclusão [...] porque, pelos professores, eles estariam na sala com os alunos ditos "normais" e os "anormais" estariam em instituições, trancados, e ninguém queria saber o que estava acontecendo lá... ainda bem que os mandaram para as escolas, para o pessoal bater com essa realidade (Letícia).
Olha, eu acho que a inclusão é válida. Não exatamente para a criança, ela é válida para os outros aprenderem a conviver com aquela criança e acabar com o preconceito, as diferenças [...] Então eu acho mais importante para isso, para eles serem respeitados nessa parte, agora, quanto à aprendizagem, na escola normal não vai... é muito difícil! (Ilana).
Ele não sabe ler, não sabe escrever, ele não quer aprender, os outros fazem para ele, ele não tem interesse, ele é muito agressivo, muito provocativo e, além de tudo, é uma criança chata [...]. Quando a criança não aprende, alguma coisa tem [...] e é complicado você chegar no pai e falar que seu filho tem problema, é complicado. E hoje em dia parece que têm muitas crianças assim, porque, às vezes, é alguma coisa biológica, que precisa de algum remédio. O médico disse que ele tem déficit de atenção, deu hiperatividade, deu um negócio assim, aí passou remédio, Ritalina, e a mãe não deu, porque ela falou que ela deu, só que deu 3 dias e ele virou um bicho [...] então se ele teve uma reação assim tão grande, é porque ele tem alguma coisa (Ilana).Fica evidente que a professora se exime de sua responsabilidade de educadora, colocando a culpa da não aprendizagem apenas no aluno. É como se a escola se resumisse a ela e ao aluno e, se ela não dá conta, o problema está no aluno. Em nenhum momento menciona o orientador, as professoras de Educação Especial, o diretor, os órgãos de saúde que têm parceria com a escola ou mesmo a família como parceira no encaminhamento das dificuldades que observa e vive com o aluno. Esse fato nos chamou muito a atenção: parece que o professor tem tomado para si a tarefa de promover a inclusão de forma solitária, o que se revela um paradoxo, pois de outro lado, ele se queixa de falta de condições, mas não as demandam, as cobram dos demais atores, tomando-as como justificativa para eximir-se de sua parcela de responsabilidade. A questão que fica é a mais relevante de todas: como fica esse aluno? Quais sentidos de escola, educação, ensino e aprendizagem ele configura nessa relação em que é taxado com tantos adjetivos depreciativos? O que fazer para evitar que, em nome da inclusão, se pratique uma exclusão perversa?
Então a gente trata como uma criança normal, uma criança que tem dificuldade de aprendizagem, mas a gente sabe que não é bem por aí (Ilana).Além de ficar evidente a concepção de inclusão como "tratar os alunos de modo igual, ignorando suas especificidades", também é possível observar que as professoras não conhecem as políticas que orientam as práticas inclusivas. Segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva1, a proposta de inclusão tem como objetivo: "Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de Educação Especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (grifo nosso).
Hoje são normais, para mim são normais... (Maria).
A inclusão é difícil em uma escola comum, porque aqui ele não é diferente, ele não pode ficar no refeitório o tempo dele, porque os outros não têm o tempo dele... é porque as crianças têm 15 minutos para comer e 15 para brincar (Letícia).
É desgastante! Nossa, nem fala, frustrante! Você não vê o retorno que tanto espera [...] A gente se sente muitas vezes abandonada, principalmente na área da saúde. A gente se sente abandonada porque não tem para onde correr ou a quem recorrer (Letícia).Evidencia-se, nessas falas, o sofrimento das professoras manifestado pela frustração, pelo sentimento de abandono. Foi isso que vimos, também, nos momentos que passamos na escola: a professora fica sozinha com o aluno, no meio de todos os outros e tem de dar conta dele e de todos os outros.
Eu acho que eu não fiz um bom trabalho. Eu não sei, eu me sinto assim, meio que sem condições, não tenho preparação (Ilana).
Deve ter órgãos em Campinas que dão assistência para o professor, nem se for para eu ir lá, no nono andar e encostar lá e dizer: eu estou aqui, estou precisando de auxílio, o que eu faço com essa criança que eu não consigo fazer inclusão! (Maria).
Ano retrasado eu tive 5 alunos especiais na sala, desde visão subnormal, alunos com outras síndromes que eu não sei o nome, a característica eu não me lembro, mas tive alunos com grandes dificuldades e eu consegui alfabetizá-los [...]. Então, em minha experiência com 5 especiais em uma sala normal, eu consegui fazer com que a classe aprendesse os conceitos necessários. Como os outros alunos, os especiais também se desenvolveram, então hoje eu digo que eu consegui vencer essa batalha [...], mas no caso que eu vivencio hoje, é um outro desafio que eu estou enfrentando, porque é uma criança de difícil adaptação, mas com os outros alunos eu venci essa etapa (Maria).Interessante a contradição revelada na fala da professora: de um lado ela acredita no sucesso da inclusão, ainda que a conceba como uma batalha, e a situação vivida por ela - 5 alunos especiais em uma classe regular com uma única professora - teria tudo para levar ao fracasso. Logo, aparece uma concepção um tanto idealizada do processo, que esconde as dificuldades que as diferenças produzem em qualquer prática educativa. De outro lado, em uma situação que teoricamente seria mais adequada (só um aluno com necessidades especiais), a professora declara que não está conseguindo promover sua inclusão e alega como motivo a dificuldade de adaptação da criança. Será que inclusão para ela é a criança adaptar-se às condições oferecidas por ela em sala de aula? Atualmente, essa professora tem uma turma de 4º ano, com 32 alunos e um aluno de 14 anos que possui Síndrome de Down. De acordo com ela, e pelo que observamos, não consegue fazer com que ele aprenda os conhecimentos que julga importantes, além de não conseguir fazer com que esse aluno fique em sala de aula. Desde o começo do ano letivo, notamos que a professora Maria manteve-se bastante abalada com o caso desse aluno, uma vez que, como abordado anteriormente, ela era até então considerada a melhor professora para realizar o processo de inclusão.
Segundo o governo antecipou à Folha, o novo programa, chamado SP Educação com Saúde, formará equipes com médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, nutricionistas e enfermeiros, que circularão pelas escolas estaduais.Interessante notar como as instâncias governamentais querem ajudar na saúde do professor - oferecem profissionais especializados para ajudar o professor, como se o problema estivesse neles e não nas condições materiais em que exercem suas atividades. Guardadas as devidas proporções, essa concepção em muito se assemelha às dos professores de que o problema da inclusão é do aluno ou das famílias. Assim, considera-se o problema de saúde desses profissionais no âmbito individual, ou seja, no professor, e não em suas relações e condições de trabalho.
Algumas equipes ficarão fixas nas diretorias de ensino. As especialidades escolhidas coincidem com as áreas em que os docentes mais têm problemas - como lesões nas cordas vocais, dores na coluna e distúrbios psicológicos - e são as maiores causas de absenteísmo.
Os profissionais das equipes serão da entidade filantrópica Santa Marcelina. O servidor que tiver algum problema de saúde diagnosticado será encaminhado ao Hospital do Servidor Público para tratamento (2010, Maio, 23 - grifo nosso).