Coluna Educação para o pensar
http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=928
Preocupado com o baixo rendimento dos alunos das escolas de Ensino Fundamental e Médio e com a pouca maturidade intelectual dos estudantes universitários dos EUA, o professor Matthew Lipman, Doutor em Filosofia, elaborou um programa de ensino de Filosofia com crianças desde a pré-escola, até jovens do último ano do Ensino Médio.
Este método parte do pressuposto de que as escolas vêm tendo grande preocupação com os conteúdos escolares, em detrimento de fortalecer nos alunos uma série de habilidades de raciocínio, que são fundamentais para vida e também para a aprendizagem.
Estas habilidades envolvem a nossa capacidade de pensar de forma ordenada, coerente, criativa e autocorretiva.
A escola continua apoiada basicamente na memória como instrumento de aprendizagem; quem não se lembra das noites decorando tabelas de verbos irregulares de Inglês, os elementos da tabela periódica, os títulos e autores das obras da literatura, as datas e vultos - ou visagens - da História. Os exercícios ou as experiências realizadas pelos professores (como se fossem inovações pedagógicas) têm como objetivo a assimilação da matéria, em nada diferente do objetivo da “decoreba”. Em alguns casos são permitidas pelos professores algumas construções ou associações livres, porém, o aluno não desenvolve seu próprio juízo acerca das coisas, nem consegue entender os nexos entre os conteúdos, pois não pode ultrapassar a matéria dada pelo professor.
Porém, isto não se deve necessariamente ao desconhecimento do professor do que esteja sendo produzido de mais recente no campo das teorias da aprendizagem. O problema básico é que os educadores não conseguem resolver este desafio: o aluno não sabe o que é uma conexão, não sabe formular hipóteses, não sabe quais os critérios para se descrever ou observar algo, para perceber as possíveis regras que estão por trás das coisas, eles não consegue exemplificar com segurança, não estabelecer similaridades e diferenças entre as coisas.
Todos os professores invariavelmente partem do pressuposto de que os alunos conseguem naturalmente, por exemplo, aproximar conceitos semelhantes, em última análise comparar coisas diferentes. Desenvolvem seu trabalho em sala de aula e assustam-se com o desempenho da turma. Promovem uma revisão da matéria, realizam exercícios, que acabam por serem assimilados de forma acrítica, pois os alunos não dispõem de uma série de “ferramentas” de raciocínio para “desmontar” um problema.
Neste sentido, o Programa de Filosofia para Crianças, pretende justamente propiciar aos alunos uma série de discussões de cunho filosófico, onde o fundamental é ser crítico, ser inventivo, viabilizar alternativas, estabelecer cooperação intelectual, exigir razões, explicitar os sentidos, e comprometer-se com uma forma de pensamento que seja autocorretiva pelo diálogo.
O programa conta com vários conjuntos de histórias onde os personagens têm aproximadamente a mesma idade das crianças e dos jovens, e relatam a vivência de seu quotidiano, envolvendo a escola, os amigos, a família, os problemas sociais e existenciais que qualquer criança/adolescente/jovem se depara. Estas histórias estimulam nas crianças uma série de perguntas sobre si mesma, sobre o mundo e sobre a escola, e é através do debate estabelecido em sala de aula que o professor coordena o tema em questão, buscando com os alunos as conexões, as implicações, as consequências, enfim tudo o que envolve o problema levantado pelos alunos, garantindo conhecimento construído e mais denso de significados; possibilitando aos alunos amadurecimento intelectual que lhe dê condições de agir de forma consciente e consequente na escola e na sociedade.
Neste programa o professor tem papel singular, a ele compete garantir o rigor do debate entre os alunos, para que sua discussão ganhe profundidade, compreensão e provoque o alargamento do horizonte por parte dos alunos, além é claro do pensar por si mesmo. Filosofia para Crianças tem a preocupação básica com o pensar bem, e o pensar bem implica muitas vezes em realizar boas escolhas, e realizar boas escolhas pode garantir qualidade de vida melhor a todos nós.