|
TENHO COMO PRIORIDADE SÓ POSTAR NESSE BLOG TEXTO E SUGESTÕES QUE ACRESCENTEM NA EVOLUÇÃO DO EDUCADOR E ESSE ARTIGO TEM ESSE OBJETIVO.
BONS ESTUDOS COMPANHEIRAS!
QUE VENHA 2012!!
http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=21
Elizabeth Polity
|
Não podemos ainda esquecer da força
sistêmica. O sistema tem uma força brutal. Se colocarmos uma criança
mais frágil num sistema onde ela vai ser engolida, isso não pode ser bom
em hipótese alguma, ela não tem recursos para lidar com este sistema,
ela não pode fazer frente à força desse sistema
Como você está vendo o trabalho Psicopedagógico
atualmente?
A psicopedagogia está ganhando um espaço muito grande, muito forte e muito
bom. Contamos com bons cursos de especialização, consistentes, abarcando uma
base teórica ampla. Esses cursos também contemplam a formação clínica, com
prática e supervisão. Assim, o profissional adquire condições de desenvolver
um trabalho de excelência.
Ao mesmo tempo, noto nas escolas, nas empresas e nas clínicas um espaço aberto
para o psicopedagogo. Tenho conhecimento de empresas, que operam na área de RH,
solicitando psicopedagogos para o corpo de profissionais.
A psicopedagogia vem se consolidando como área de conhecimento, como área de
atuação, trabalhando interdisciplinarmente e fazendo as pessoas compreenderem
que aprender não é algo necessariamente ligado ao ensino sistematizado, à
escola. "Aprender é algo que se faz o tempo todo, durante toda a vida.
Depois que deixamos de fazer as coisas por reflexos, tudo o que fazemos demanda
aprendizagem. Aprendemos nas empresas, aprendemos nas instituições, aprendemos
nas escolas, aprendemos com as famílias e nas famílias", o que amplia
muito o campo do psicopedagogo.
O psicopedagogo nas empresas já é uma realidade?
Tenho notícias de que isso é uma realidade. O profissional integrando
equipes multidisciplinares, dentro de empresas, na área de relações humanas,
trabalhando com as questões relacionais, com as questões da organização que
aprende, com a visão compartilhada. Para as culturas orientais, aprender
significa estudar e praticar constantemente. Creio ser este o espírito das
organizações que pretendem atingir grandes mudanças .
Atualmente estou lendo um livro muito interessante chamado "A Quinta
Disciplina", que foi escrito por um Administrador (Senge, P.M., Ed. Best
Seller, 1999), e tem por base o pensamento sistêmico. Ele afirma a questão da
necessidade da aprendizagem das e nas relações: um profissional não pode só
conhecer ou dominar o seu campo de trabalho. Ele precisa conhecer como se
processam as relações, ter um razoável domínio pessoal, ter uma visão
compartilhada e promover a aprendizagem em equipe. Creio que são requisitos
plenamente tangíveis para um psicopedagogo, tendo em vista a pluralidade de sua
formação.
Você tem duas publicações na área da psicopedagogia, do
que elas tratam?
O primeiro livro é a minha monografia, apresentada como exigência para a
conclusão do curso de especialização em Psicopedagogia, para a PUC-SP. Foi
publicada pela Editora Lemos e chama-se "Ensinando a Ensinar". Ele
traz um pouco da minha experiência adquirida em uma escola, que atende crianças
com dificuldades de aprendizagem. Foi um trabalho desenvolvido com uma equipe de
professores, com o objetivo de estimular as reflexões sobre o trabalho com
estes alunos. É um livro com suporte teórico voltado para a psicanálise. No
primeiro capítulo, falo um pouco sobre o "autorizar-se a ensinar",
utilizando o conceito bioniano (W.Bion) de autoridade interna. Em outro capítulo
do livro volto-me "a quem se ensina ?"; qual o objetivo de entender
melhor este aluno com qual vou trabalhar, através do olhar da psicologia genética
e da psicanálise.
No terceiro capítulo, proponho uma Psicopedagogia sistêmica, com o intuito de
observar que os processos educacionais, que envolvem os sujeitos dentro de uma
escola, estão inter-relacionados e se influenciam mutuamente. Ao perceber a
escola como sistema, deixamos de colocar o foco no aluno com dificuldade e o
redestribuimos por todos os subsistemas envolvidos.
No segundo livro "Psicopedagogia: um Enfoque Sistêmico - Terapia Familiar
nas Dificuldades de Aprendizagem" da editora Empório do Livro, fui a
organizadora. Escrevo com outras quatro psicopedagogas e terapeutas familiares.
Pretendemos falar um pouco sobre a dificuldade de aprendizagem iluminada pelas
teorias da Terapia Familiar Sistêmica. As autoras propõe uma articulação
entre a teoria sistêmica que embasa a terapia familiar e os pressupostos teóricos
da Psicopedagogia.
No primeiro capítulo é dada uma noção geral do que é a Teoria Sistêmica,
Cibernética de Primeira Ordem, Cibernética de Segunda Ordem, trazendo um
aporte teórico para o leitor que não é da área. Nos outros capítulos, por
intermédio de atendimentos clínicos, vamos tentando estabelecer relações
entre o atendimento familiar e o psicopedagógico. A preocupação das autoras
é a de estar mostrando a importância da família, da escola, do contexto
social, das redes mais amplas, para o entendimento da dificuldade de
aprendizagem.
Qual a vantagem do Enfoque Sistêmico no olhar psicopedagógico?
Penso que para melhor compreendermos as questões da aprendizagem, elas devem
ser consideradas sistemicamente. O que vem a ser isso? A escola, a família do
aluno, ele próprio, os professores, são todos integrantes de um sistema que
formam uma unidade e tendem para a manutenção de um equilíbrio. Ao olharmos
esses subsistemas de forma circular estaremos nos responsabilizando, e a todos
os envolvidos, nos processos de aprendizagem e nas possíveis rupturas que
possam aí surgir.
Dentro da minha experiência, trabalhando com alunos com a queixa de dificuldade
de aprendizagem, pude perceber que embora essa possa ser uma condição ligada a
múltiplos fatores internos do sujeito, ela está sobremaneira sustentada pelo
meio familiar, escolar, social, no qual o sujeito está inserido.
A circularidade, enquanto propriedade dos sistemas, evita que sejamos presos
pela cômoda possibilidade de eleger uma única causa para o problema.
E quanto à Instituição, o que o olhar Sistêmico
propicia?
Tão importante quanto ter um modelo é perceber que ele não passa de uma
metáfora. Assim, quando se fala em olhar sistêmico na Instituição isso é
apenas um recurso que nos auxilia a ordenação de uma realidade complexa,
possibilitando definições operacionais, lógicas e pragmáticas.
O que este modelo nos permite é perceber como as questões do aprender e do
saber operam de uma forma relacional e circular. Tanto quem aprende como quem
ensina, estão ambos implicados e mutuamente responsáveis pelos/nos resultados.
Colocar tanto o ensinante quanto o aprendente, quanto às famílias de ambos,
assim como os terapeutas envolvidos neste processo, a escola, o próprio
contexto social, implicados e co - responsáveis pela mesma situação. Desta
forma tiramos o foco da criança, deixamos de olha-la como bode expiatório, e
redistribuímos o sintoma (no caso, as dificuldades de aprendizagem), por todos
os envolvidos.
Na Escola Winnicott, como funciona isso na prática?
Em nosso trabalho, pretendemos por na prática esses ensinamentos, dentre
outros expedientes, através da formação de redes de apoio.
Trabalhamos a pessoa do professor, a família deste professor (não no sentido
de trazer a família deste profissional para dentro da escola, mas sim, quais os
mandatos, valores e crenças, quais os mitos que permeiam a família do
professor, inclusive o que o levou a escolher essa profissão, que sentido na
sua história de vida faz com que apareçam dificuldades com determinados alunos
e facilidades com outros).
Trabalhamos com os terapeutas que atendem nossos alunos. Trabalhamos com as famílias
dos alunos, através de palestras, encontros, orientações.
Enquanto direção e coordenação, estamos igualmente implicados nesta situação
de aprendizagem, inseridos que estamos no mesmo sistema.
O trabalho em rede permite uma melhor apreensão do contexto, clarificando a
natureza do problema e as respostas que devem ser fornecidas.
O que se propõe e se espera do profissional em uma escola
com crianças com dificuldade de aprendizagem, a formação deverá ser
diferenciada?
Acredito que sim. Temos aqui no Colégio Winnicott reuniões semanais, com 2
horas de duração, onde são desenvolvidos trabalhos teóricos e práticos.
O aporte teórico visa trazer informação para os professores, uma vez que
temos da 5ª série do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio,
professores especialistas de áreas (as classes de 1ª. à 4ª série são
comandadas por psicopedagogos).
Estes professores normalmente não detém um conhecimento da área da
psicopedagogia, criando uma necessidade de trazer até eles, textos de psicanálise,
lingüística, filosofia, pedagogia, teoria sistêmica, entre outros.
Damos ainda, especial atenção à formação da pessoa desses profissionais,
desenvolvendo dinâmicas psicodramáticas, que visam favorecer seu
auto-conhecimento.
A maior parte de nossos profissionais faz ou fez terapia. Considero que é uma
das condições básicas para se trabalhar com alunos, sobretudo aqueles que
apresentam dificuldade no aprendizado.
Quais são os problemas mais comuns encontrados na população
de crianças com problemas de aprendizagem?
Quando fiz minha tese de mestrado "As dificuldades de Aprendizagem à
Luz das Relações Familiares: um ensaio sistêmico" ocorreu-me fazer uma
pesquisa, no colégio, acerca das " dificuldades" que mais apareciam
como queixa inicial.
À primeira vista, os problemas emocionais emergiram como maioria. Depois, com
um olhar mais detalhado e mais atento, pude perceber que as dificuldades se
sobrepõe. Na verdade, você nunca tem uma única causa, mas um conjunto de
situações que favorecem o aparecimento e a manutenção do sintoma (aqui
entendido como dificuldade de aprendizagem). Na maioria das vezes, há um
entrelaçamento de vários fatores (por exemplo: neurológicos, genéticos,
cognitivos, familiares, sociais, escolares, etc..) que precisam ser
compreendidos sistemicamente.
Esse movimento me permitiu observar o papel fundamental dos sistemas envolvidos,
em especial o da família, que foi o alvo de minha pesquisa e poder concluir que
seja qual for a etiologia da dificuldade de aprendizagem o apoio do sistema
familiar é decisivo para a condução do processo.
Um exemplo que cito na minha dissertação: o estudo de uma criança com síndrome
de X Frágil (alteração cromossômica caracterizada pela mutação do
cromossoma X do par sexual XY. Atinge pessoas do sexo masculino e caracteriza
entre outros por sintomas como: dificuldade para entender conceitos abstratos,
depressão ou hiperatividade, traços de autismo, lentidão de raciocínio). No
caso a que me refiro, a criança vem de uma família funcional, onde o pai e mãe
tem muita clareza para lidar com a situação, propiciando desta forma, que a
criança desenvolva seu potencial. Apesar das dificuldades próprias do quadro,
outras variáveis favoráveis estavam presentes e se faziam notar, oferecendo um
bom desenvolvimento para a aquisição da aprendizagem.
Estudei também o caso de um jovem, com queixa de abandono escolar em virtude de
drogadicção, proveniente de uma família disfuncional (onde as funções
familiares ou não são claras ou não existem. Famílias onde não existem
hierarquia, fronteiras, onde filhos e pais são "iguais"). Embora ele
apresentasse a capacidade cognitiva preservada, sua condição emocional não
permitia que ele fizesse uso de suas competências. Assim, o fator emocional
comprometia o cognitivo, o relacional, o social, que por sua vez impediam sua
aprendizagem.
Novamente voltamos para questão sistêmica: as situações não devem ser
analisadas isoladamente, porque na realidade, o todo não é a soma das partes.
Qual é o limite do Psicopedagogo na prática do atendimento
psicopedagógico?
Aí entramos numa questão muito interessante que é a psicopedagogia como área
de interseção, como um conhecimento multi e interdisciplinar.
Delimitar o campo de atuação de um profissional é antes de tudo preocupar-se
com a qualidade do trabalho e a respectiva competência para executá-lo. Daí a
importância da regulamentação dos cursos de especialização, dos estágios,
da supervisão. Falando em limite da prática profissional, fala-se em Ética e
em responsabilidade; em (re)conhecimento de seus próprios limites pessoais.
O psicopedagogo por ter uma formação pluralista pode estar apto a exercer práticas
diferentes. Explicando melhor: o Psicopedagogo que é também fonoaudiólogo,
pode trabalhar com os distúrbios da fala. O que é psicanalista está apto a
fazer interpretações. O que é psicólogo pode fazer terapia, e assim por
diante. O psicopedagogo que tenha uma formação em terapia familiar está apto
a atender também a família. Cada um na sua área, tendo em comum a preocupação
com a aprendizagem.
Creio que o que se pode destacar aqui é a possibilidade de se procurar
parcerias e trabalhar em redes que ofereçam um atendimento adequado aos nossos
clientes.
A idéia de "Rede de Apoio", no Brasil ainda é nova, mas em outras
locais, como EUA e Europa, ela já é largamente utilizada. Trata-se de um
conjunto de pessoas, que de maneira formal ou informal vinculam-se entre si. Ela
diz respeito aos processos dessa interação social que são estabelecidos pelos
indivíduos em seu cotidiano. Muitas são as redes que se pode dispor: a Igreja,
a comunidade social, o clube, o sistema de saúde, profissionais de outras áreas,
entre outros. Cabe a nós, saber tecer os nós de rede que beneficiem nosso
trabalho e o atendimento ao nosso cliente/aluno.
Como ilustração cito um trabalho que apresentei no IV Congresso de Terapia
Familiar - RJ, cujo tema era: Flexibilizando as tramas das Lealdades Familiares:
relato de um atendimento. Descrevo o caso de uma família que atendi, onde o
apoio de uma rede mais ampla, no caso de uma igreja evangélica foi decisivo
para o andamento do processo terapêutico. O Paciente Identificado veio com
diagnóstico de psicose e naquele momento a família não dispunha de recursos
internos para ajudá-lo. Era um grupo pobre de contatos, que vivia isolado e com
padrões de comunicação muito empobrecidos. A partir do momento que esse rapaz
começou a fazer contato com este grupo social, que foi incorporado no coro, que
passou a fazer amizades, pode-se observar uma significativa mudança nos padrões
relacionais dele e de todo o grupo.
Fica aqui uma sugestão desse recurso como aliado do atendimento psicopedagógico.
Quais são os danos neste tipo de família, já que temos
observado o aumento desta síndrome por causa do medo e a violência na
sociedade nos dias atuais?
As trocas ficam empobrecidas. Não há investimento de novos recursos, a família
se fecha em si, evitando trocas com o meio exterior. Usamos um termo emprestado
da física para nomear o fenômeno: entropia
Em relação à sociedade de hoje, percebermos as famílias cada vez mais
isoladas. Há sessenta anos atrás, era comum a família extensa, composta por
pais, irmãos, tios, avós, morando na mesma casa ou próximos. Hoje encontramos
um grande número de famílias mono-parentais, distantes de sua família de
origem e com pouco apoio de redes mais amplas.
Muitas famílias estão se restringindo a suas casas, num convívio empobrecido,
de parcos recursos emocionais, porque não há troca. A mãe sozinha (ou o pai)
não tem amparo, não tem continência, chega um momento onde ela/ele não tem
mais o que dar para os filhos, porque não recebe nada, está isolada/o da sua
família de origem, está distante de amigos, está distante de um contexto
social mais amplo.
Também observamos famílias, que têm uma criança diferente, comprometida por
uma questão física ou emocional; estas também costumam isolar-se; fecham-se,
ou por vergonha ou por dificuldade em lidar com a situação perante os amigos,
perante a sociedade. Não saem com as crianças, não querem se expor. São famílias
que realmente não conseguiram trabalhar o luto de ter uma criança diferente do
desejado.
Como reagem famílias de crianças que estudam em escolas
"especiais"?
Como já mencionei, percebo a necessidade de elaboração do luto por se ter
um filho diferente daquele que se imaginava.
Normalmente, quando as famílias chegam para nós, percebe-se uma diferença
muito interessante: as famílias que vem procurando vaga para crianças até a 4ª
série, em sua maioria, ainda está naquele período em que não aceitou bem a
dificuldade da criança, ainda tem a esperança de que um dia ela irá para uma
escola "normal".
Existe a vergonha porque a criança precisa de uma escola diferente; eles querem
ver como é " a cara dos outros alunos", aparece o preconceito.
Por outro lado, os pais do Ensino Médio (antigo Colegial), são pais com maior
tranqüilidade em aceitar aquele filho diferente, já trilharam um caminho vêem
a possibilidade de continuar. Percebe-se uma aceitação maior, não existe mais
a questão do preconceito, na sua maioria estabeleceram um relacionamento mais
amplo dentro da comunidade.
Pode-se observar uma clara analogia entre a aceitação de um filho diferente e
as fases que Bowby descreveu para a aceitação do luto: sentimentos como raiva,
ansiedade e medo, a família está desorganizada internamente, tendem a esconder
essas crianças do mundo externo, da realidade. Depois disso vai existindo um
salto qualitativo onde os pais começam a trabalhar melhor esta idéia e vão
passando para uma fase de maior aceitação, de mais organização.
Temos experiências de crianças que entraram nas série inicias e ficam até o
3o ano do Ensino Médio. Assim podemos observar por muitos anos estas famílias
e perceber este processo de mudança, de maneiras diferentes de se relacionar
com o sujeito, com o mundo, com a comunidade. Obviamente que esta divisão que
estou fazendo não é rígida e nem tenho a pretensão de generalizar. Serva
apenas para efeito de elucidação.
Como você vê a questão da inclusão?
A idéia da inclusão é muito interessante. Leio muito sobre como isso é
feito em outros países, como Itália e França, onde esse trabalho já é
bastante conhecido.
Na prática, infelizmente a inclusão aqui no Brasil não responde tão
positivamente como em outras experiências que se lê nos relatos de outras
localidades.
Na minha visão, existem dois momentos bem diferentes: o primeiro é aquela
tentativa de inclusão onde se coloca uma criança diferente em uma classe
"normal", de crianças ditas "normais", e esse diferente
fica absolutamente ilhado e isolado, muitas vezes, servindo de chacota para
outras crianças, tendo sua auto-estima rechaçada pelos amigos, vivenciando uma
experiência que acaba sendo muito ruim para ambos os lados.
O que se vê , com freqüência, são profissionais designados para lidar com
essas turmas que não tem o devido preparo para trabalhar as diferenças, para
aceitar as diferenças e portanto, para fazer uma inclusão real.
Num segundo momento podemos considerar outros casos onde existe uma inclusão
mais frutífera: algumas crianças ditas "normais" interagindo com
outras que apresentam alguma diferença e todas participando por exemplo de uma
aula de natação, uma aula de equoterapia (terapia com o auxílio do cavalo),
uma aula de música, ou seja, onde a capacidade intelectual não seja tão
valorizada, tão necessária e que marque esta diferença.
Se reunirmos crianças com potenciais diferentes e exigir delas atividades onde
ambas estejam em condições de dar, essa inclusão é perfeita. Como, por
exemplo, no jogo de futebol que nossos alunos participam. O que é exigido é
uma boa capacidade motora, o respeito às regras, aos limites e todos os benefícios
que os jogos podem trazer para a aprendizagem.
Quem trabalha em uma escola que atende crianças com dificuldades de
aprendizagem, sabe da preocupação de se estar reunindo num grupo, patologias
e/ou necessidades extremamente diversas. É algo que temos que olhar com muita
atenção, com muito critério.
Aqui no Winnicott, muitas vezes, deixamos de atender alunos que tinham o perfil
da escola porque naquele momento não havia um grupo que pudesse acolhe-los bem.
Não adianta colocarmos crianças com muitas diferenças entre si e não
viabilizarmos um atendimento profícuo. Ainda que tenhamos a preocupação com o
"individualizado", em algum momento teremos que ter um denominador
comum, se não, porque é que estamos agrupando?
Falar em inclusão é muito interessante, mais uma inclusão feita com bom
senso, com critério, com respeito e responsabilidade.
Não podemos ainda esquecer da força sistêmica. O sistema tem uma força
brutal. Se colocarmos uma criança mais frágil num sistema onde ela vai ser
engolida, isso não pode ser bom em hipótese alguma, ela não tem recursos para
lidar com este sistema, ela não pode fazer frente à força desse sistema.
Questiono a inclusão neste sentido.
Estamos lidando com gente, isto não é reversível, não dá para apagar e
fazer de novo, é uma responsabilidade muito séria com o sujeito, com as famílias,
com a comunidade, com todos os envolvidos.
Acho que há uma questão que deve ficar para nós, enquanto educadores e
psicopedagogos: para que estamos fazendo essa inclusão? qual o objetivo?
Elizabeth Polity - Psicopedagoga, terapeuta familiar, Mestre em educação, doutoranda em
psicologia. Diretora do Colégio Winnicott. Diretora da APTF