Simaia Sampaio
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Fernández (1990) afirma que o diagnóstico, para o
terapeuta, deve ter a mesma função que a rede para um equilibrista. É ele,
portanto, a base que dará suporte ao psicopedagogo para que este faça o
encaminhamento necessário.
É um processo que permite ao profissional
investigar, levantar hipóteses provisórias que serão ou não confirmadas ao
longo do processo recorrendo, para isso, a conhecimentos práticos e teóricos.
Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de
intervenções e da “...escuta psicopedagógica...”, para que “...se possa
decifrar os processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção”. (BOSSA, 2000, p. 24).
Na Epistemologia Convergente todo o processo
diagnóstico é estruturado para que se possa observar a dinâmica de interação
entre o cognitivo e o afetivo de onde resulta o funcionamento do sujeito
(BOSSE, 1995, p. 80)
Conforme Weiss,
O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é
identificar os desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do
sujeito que o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio
social. (2003, p. 32 )
O diagnóstico possui uma grande relevância tanto
quanto o tratamento. Ele mexe de tal forma com o paciente e sua família que,
por muitas vezes, chegam a acreditar que o sujeito teve uma melhora ou
tornou-se agressivo e agitado no decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso
devemos fazer o diagnóstico com muito cuidado observando o comportamento e
mudanças que isto pode acarretar no sujeito.
Para
ilustrar como o diagnóstico interfere na vida do sujeito e sua família,
citaremos um exemplo de Weiss: uma paciente, uma adolescente de 18 anos
cursando a 7ª série de escola especial, queixou-se à mãe que ela (Weiss) estava
forçando-a a crescer. Ela conseguiu fazer a elaboração deste pensamento porque
tinha medo de perder o papel na família da doente que necessitava de atenção
exclusiva para ela. A família percebeu que isto realmente poderia acontecer e
era isto também que sustentava seu casamento “já acabado”. Concordou com a
terapeuta em interromper o diagnóstico (2003, p. 33 ).
Bossa nos lembra que a forma de se operar na
clínica para se fazer um diagnóstico varia entre os profissionais dependendo da
postura teórica adotada. (p. 96, 2000).
Na linha da Epistemologia Convergente, Visca nos
informa que o diagnóstico começa com a consulta inicial (dos pais ou do próprio
paciente) e encerra com a devolução (1987, p. 69).
Antes de se iniciar as sessões com o sujeito faz-se
uma entrevista contratual com a mãe e/ou o pai e/ou responsável, objetivando
colher informações como:
Identificação da criança: nome, filiação, data de
nascimento, endereço, nome da pessoa que cuida da criança, escola que
freqüenta, série, turma, horário, nome da professora, irmãos, escolaridades dos
irmãos, idade dos irmãos.
Motivo da consulta;
Procura do Psicopedagogo: indicação;
Atendimento anterior;
Expectativa da família e da criança;
Esclarecimento sobre o trabalho psicopedagógico.
Definição de local, data e horário para a
realização das sessões e honorários.
Visca propôs o seguinte Esquema Seqüencial Proposto pela Epistemologia
Convergente:
Ações do entrevistador
EOCA
Testes
Anamnese
Elaboração do Informe
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Procedimentos Internos do Entrevistador
1º sistema de hipóteses
Linhas de investigação
Escolha de instrumentos
2º sistema de hipóteses
Linhas de investigação
Verificação e decantação do 2º sistema de hipótese.
Formulação do 3º sistema de hipóteses
Elaboração de uma imagem do sujeito (irrepetível) que articula a
aprendizagem com os aspectos energéticos e estruturais, a-históricos e
históricos que a condicionam.
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(VISCA, 1991)
Observamos, no quadro acima, que ele propõe iniciar
o diagnóstico com a EOCA e não com a anamnese argumentando que “... os pais,
invariavelmente ainda que com intensidades diferentes, durante a anamnese
tentam impor sua opinião, sua ótica, consciente ou inconscientemente. Isto
impede que o agente corretor se aproxime ‘ingenuamente’ do paciente para vê-lo
tal como ele é, para descobri-lo. (Id. Ibid., 1987, p. 70).
Os profissionais que optam pela linha da
Epistemologia Convergente realizam a anamnese após as provas para que não haja
“contaminação” pelo bombardeio de informações trazidas pela família, o que
acabaria distorcendo o olhar sobre aquela criança e influenciando no resultado
do diagnóstico.
Porém, alguns profissionais iniciam o diagnóstico
com a anamnese. É o caso de Weiss. Compare abaixo o quadro da seqüência
diagnóstica proposta por ela:
1º - Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S.)
2º - Anamnese
3º - Sessões lúdicas centradas na aprendizagem (para crianças)
4º - Complementação com provas e testes (quando for necessário)
5º - Síntese Diagnóstica – Prognóstico
6º - Devolução - Encaminhamento
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(WEISS, 1994)
Esta diferença não altera o resultado do
diagnóstico, porém é preciso que o profissional acredite na linha em que
escolheu para seu trabalho psicopedagógico.
Como o presente trabalho está baseado na
Epistemologia Convergente abordaremos a anamnese ao final e iniciaremos falando
sobre a EOCA.
A realização da EOCA tem a intenção de investigar o
modelo de aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia
social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método clínico da
Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).
Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento
simples, porém rico em seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que
mostre ao entrevistador o que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o
que aprendeu a fazer, utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a
seguinte observação do entrevistador: “este material é para que você o use se
precisar para mostrar-me o que te falei que queria saber de você” (VISCA, 1987,
p. 72).
O entrevistador poderá apresentar vários materiais
tais como: folhas de ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua,
livros ou revistas, barbantes, cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor,
lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda outros materiais que julgar necessários.
O entrevistado tende a comportar-se de diferentes
maneiras após ouvir a consigna. Alguns imediatamente, pegam o material e
começam a desenhar ou escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que
lhe digam o que fazer, e outros simplesmente ficam paralisados. Neste último
caso, Visca nos propõe empregar o que ele chamou de modelo de alternativa
múltipla (1987, p. 73), cuja intenção é desencadear respostas por parte do
sujeito. Visca nos dá um exemplo de como devemos conduzir esta situação: “você
pode desenhar, escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que
lhe venha à cabeça...” (1987, p. 73).
Vejamos o que Sara Paín nos fala sobre esta falta
de ação na atividade “A hora do jogo” (atividade trabalhada por alguns
psicólogos ou Psicopedagogos que não se aplica à Epistemologia Convergente,
porém é interessante citar para percebermos a relação do sujeito com o objeto):
No outro extremo encontramos a criança que não toma
qualquer contato com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que
pode ceder ao estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento da realidade,
uma indiferença sem ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu
próprio corpo e outras vezes permanece numa atividade quase catatônica. (1992,
p. 53).
Piaget, em Psicología de la Inteligência, coloca
que:
O indivíduo não atua senão quando experimenta a
necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado
entre o meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este equilíbrio, quer
dizer, precisamente, a readaptar o organismo... (PIAGET apud VISCA, 1991, p.
41).
De acordo com Visca, o que nos interessa observar
na EOCA são “...seus conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa,
ansiedades, áreas de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade
horizontal e vertical etc (1987, p. 73).
É importante também observar três aspectos que
fornecerão um sistema de hipóteses a serem verificados em outros momentos do
diagnóstico:
A temática – é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo
sempre um aspecto manifesto e outro latente;
A dinâmica – é tudo aquilo que o sujeito faz, ou
seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc). A forma de pegar os
materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o
produto.
O produto – é tudo aquilo que o sujeito deixa no
papel.
(Id. Ibid., 1987, p. 74)
Visca (1987) observa que o que obtemos nesta
primeira entrevista é um conjunto de observações que deverão ser submetidas a
uma verificação mais rigorosa, constituindo o próximo passo para o processo
diagnóstico.
É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema
de hipóteses e definirá sua linha de pesquisa. Logo após são selecionadas as
provas piagetianas para o diagnóstico operatório, as provas projetivas
psicopedagógicas e outros instrumentos de pesquisa complementares.
Visca reuniu em seu livro: El diagnostico
operatório em la practica psicopedagogica, as provas operatórias aplicadas no
método clínico da Escola de Genebra por Piaget, no qual expõe sucintamente os
passos em que usou com grupos de estudo e cursos para o ensino do diagnóstico
psicopedagógico, comentando o porque de cada passo.
A aplicação das provas operatórias tem como
objetivo determinar o nível de pensamento do sujeito realizando uma análise
quantitativa, e reconhecer a diferenças funcionais realizando um estudo
predominantemente qualitativo. (Id. Ibid., p. 11, 1995).
O autor nos alerta que as provas “...no siempre han
sido adecuadamente entendidas y utilizadas de acuerdo com todas las
posibilidades que las mismas poseen” (1995, p. 11). Isto se deve, talvez, a uma
certa dificuldade de sua correta aplicação, evolução e extração das conclusões
úteis para entender a aprendizagem.
Segundo Weiss:
As provas operatórias têm como objetivo principal
determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento
cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o
nível de estrutura cognoscitiva com que opera (2003, p. 106).
Ela ainda nos alerta que não se deve aplicar várias
provas de conservação em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da
forma de resposta. Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros
detalhados dos procedimentos da criança, observando e anotando suas falas,
atitude, soluções que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o
material. Isto será fundamental para a interpretação das condutas.
Para a avaliação as respostas são divididas em três
níveis:
Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o
nível operatório nesse domínio.
Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam
oscilações, instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em
outro não.
Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção
sem vacilação.
Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as
diferentes condutas em provas distintas:
...pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em
apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito.
Pode-se ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra
uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais
separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova
de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos
adultos que ficam intimidadas com a contra-argumentação do terapeuta, e passam
a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes
de fazer (2003, p. 111).
Em relação a crianças com alguma deficiência mental
ela nos diz que:
No caso de suspeita de deficiência mental, os
estudos de B. Inhelder (1944) em El diagnóstico del razonamiento en los débiles
mentales mostram que os oligofrênicos (QI 0-50) não chegam a nenhuma noção de
conservação; os débeis mentais (QI 50-70) chegam a ter êxito na prova de
conservação de substância; os fronteiriços (QI 70-80) podem chegar a ter
sucesso na prova de conservação de peso; os chamados de inteligência normal
“obtusa” ou “baixa”, podem obter êxito em provas de conservação de volume, e às
vezes, quando bem trabalhados, podem atingir o início do pensamento formal
(2003, p.111-112).
Visca também reuniu em um outro livro: Técnicas
proyetivas psicopedagogicas, as provas projetivas, cuja aplicação tem como
objetivo investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em três grandes
domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é possível
reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos
que constituem o vínculo de aprendizagem.
Sobre as provas projetivas Weiss observa que:
O princípio básico é de que a maneira do sujeito
perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos
fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a
apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer
algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos
existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente
escolar (2003, p. 117)
Para Sara Paín, o que podemos avaliar através do
desenho ou relato é a capacidade do pensamento para construir uma organização
coerente e harmoniosa e elaborar a emoção. Também permitirá avaliar a
deteriorização que se produz no próprio pensamento. Esta autora ainda nos diz
que o pensamento fala através do desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o
que oferece a oportunidade de saber como o sujeito ignora (1992, p. 61).
De acordo com a Epistemologia Convergente, após a
aplicação das provas operatórias e das técnicas projetivas o psicopedagogo
levantará o 2º Sistema de hipóteses e organizará sua linha de pesquisa para a
anamnese que, como já vimos, terá lugar no final do processo diagnóstico, de
modo a não contaminar previamente a percepção do avaliador.
Weiss nos diz que:
As observações sobre o funcionamento cognitivo do
paciente não são restritas às provas do diagnóstico operatório; elas devem ser
feitas ao longo do processo diagnóstico. Na anamnese verifica-se com os pais
como se deu essa construção e as distorções havidas no percurso;... (2003,
p.106).
A anamnese é uma das peças fundamentais deste
quebra-cabeça que é o diagnóstico. Através dela nos serão reveladas informações
do passado e presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu
meio. Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus
preconceitos, expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é
depositado sobre o sujeito.
... toda anamnese já é, em si, uma intervenção na
dinâmica familiar em relação à “aprendizagem de vida”. No mínimo se processa
uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do
paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como
um todo (Id. Ibid., 2003, p. 63).
Segundo Weiss, o objetivo da anamnese é “colher
dados significativos sobre a história de vida do paciente” (2003, p. 61).
Consiste em entrevistar o pai e/ou a mãe, ou
responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações possíveis
sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento do 3º sistema
de hipóteses. Para isto é preciso que seja muito bem conduzida e registrada.
O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade “...
para que todos se sintam com liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos
sobre a criança para que possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à
aprendizagem”. (Id. Ibid., 2003, p. 62).
Deixá-los falar espontaneamente permite ao
psicopedagogo avaliar o que eles recordam para falar, qual a seqüência e a
importância dos fatos. O psicopedagogo deverá complementar ou aprofundar.
Conforme Weiss, em alguns casos deixa-se a família
falar livremente. Em outros, a depender das características da família, faz-se
necessário recorrer a perguntas sempre que necessário. Os objetivos deverão
estar bem definidos, e a entrevista deverá ter um caráter semidiretivo (2003,
p. 64).
De acordo com Paín, a história vital nos permitirá
“...detectar o grau de individualização que a criança tem com relação à mãe e a
conservação de sua história nela” (1992, p. 42).
É importante iniciar a entrevista falando sobre a
gravidez, pré-natal, concepção. Weiss nos informa que,
“A história do paciente tem início no momento da
concepção. Os estudos de Verny (1989) sobre a Psicologia pré-natal e perinatal
vêm reforçar a importância desses momentos na vida do indivíduo e, de algum
modo, nos aspectos inconscientes de aprendizagem” (2003, p. 64).
Algumas circunstâncias do parto como falta de
dilatação, circular de cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de
cesárea, “costumam ser causa da destruição de células nervosas que não se
reproduzem e também de posteriores transtornos, especialmente no nível de
adequação perceptivo-motriz” (PAÍN, 1992, p. 43).
É interessante perguntar se foi uma gravidez
desejada ou não, se foi aceito pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão
determinar aspectos afetivos dos pais em relação ao filho.
Posteriormente é importante saber sobre as
primeiras aprendizagens não escolares ou informais, tais como: como aprendeu a
usar a mamadeira, o copo, a colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a
andar, a andar de velocípede, a controlar os esfíncteres, etc. A intenção é
descobrir “em que medida a família possibilita o desenvolvimento cognitivo da
criança – facilitando a construção de esquemas e deixando desenvolver o
equilíbrio entre assimilação e acomodação...”. (WEISS, 2003, p.66).
É interessante saber sobre a evolução geral da
criança, como ocorreram seus controles, aquisição de hábitos, aquisição da
fala, alimentação, sono etc., se ocorreram na faixa normal de desenvolvimento
ou se houve defasagens.
Se a mãe não permite que a criança faça as coisas
por si só, não permite também que haja o equilíbrio entre assimilação e acomodação.
Alguns pais retardam este desenvolvimento privando a criança de, por exemplo,
comer sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não se sujar e não
urinar na casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja, os
esquemas de objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de
coordená-los.
Por outro lado há casos de internalização prematura
dos esquemas, é o chamado de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a
criança a fazer determinadas coisas das quais ela ainda não está preparada para
assimilar, pois seu organismo ainda está imaturo, o que acaba desrealizando
negativamente o pensamento da criança.
Sobre o que acabamos de mencionar Sara Paín nos diz
que é interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança no momento
esperado ou se foram retardadas ou precoces. “Isto nos permite estabelecer um
quociente aproximado de desenvolvimento, que se comparará com o atual, para
determinar o deterioramento ou incremento no processo de evolução” (1992, p.
45).
A mesma autora aconselha insistirmos “... nas
modalidades para a educação do controle dos esfíncteres quando apareçam
perturbações na acomodação... ” (1992, p. 42).
Weiss nos orienta também saber sobre a história
clínica, quais doenças, como foram tratadas, suas conseqüências, diferentes
laudos, seqüelas.
A história escolar é muito importante, quando
começou a freqüentar a escola, sua adaptação, primeiro dia de aula, possíveis
rejeições, entusiasmo, porque escolheram aquela escola, trocas de escola,
enfim, os aspectos positivos e negativos e as conseqüências na aprendizagem.
Todas estas as informações essenciais da anamnese
devem ser registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.
Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o
3º sistema de hipóteses. A anamnese deverá ser confrontada com todo o trabalho
do diagnóstico para se fazer a devolução e o encaminhamento.
Devolução no dicionário é o ato de devolver, de dar
de volta (ROCHA, 1996, p. 208). No sentido da clínica psicopedagógica a
devolução é uma comunicação verbal, feita aos pais e ao paciente, dos
resultados obtidos através de uma investigação que se utilizou do diagnóstico
para obter resultados.
“... talvez o momento mais importante desta
aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista
que se realiza primeiramente com o sujeito e depois com os pais (quando se
trata de uma criança, é claro)” (PAÍN, 1992, p. 72).
Segundo Weiss, no caso da criança, é preciso fazer
a devolução utilizando-se de uma linguagem adequada e compreensível para sua
idade para que não fique parecendo que há segredos entre o terapeuta e os pais,
ou que o terapeuta os traiu (1992, p. 130).
É perfeitamente normal que, neste momento, exista
muita ansiedade para todos os envolvidos no processo, seja o psicopedagogo, o
paciente e os pais. Muitas vezes algumas suspeitas observadas ao longo do
diagnóstico tendem a se revelar no momento da devolução, “ficam evidentes
nestas falas as fantasias que chegam ao momento da devolução, e que estiveram
presentes durante todo o processo diagnóstico” (Id. Ibid., 2003, p. 130).
Alguns pais chegam à devolução sem terem
consciência ou camuflam o que sabem sobre seu filho. É preciso tomar
consciência da situação e providenciar suas transformações, caso contrário, não
será possível realizar um contrato de tratamento.
Weiss orienta organizar os dados sobre o paciente
em três áreas: pedagógica, cognitiva e afetivo-social, e posteriormente
rearrumar a seqüência dos assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais
ênfase. É necessário haver um roteiro para que o psicopedagogo não se perca e
os pais não fiquem confusos. Tudo deve ser feito com muito afeto e seriedade,
passando segurança. Os pais, assim, muitas vezes acabam revelando algo neste
momento que surpreende e acaba complementando o diagnóstico.
É importante que se toque inicialmente nos aspectos
mais positivos do paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a
criança já se encontra com sua auto-estima tão baixa que a revelação apenas dos
aspectos negativos acabam perturbando-o ainda mais, o que acaba por
inviabilizar a possibilidade para novas conquistas.
Depois deverão ser mencionados os pontos causadores
dos problemas de aprendizagem.
Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as
recomendações como troca de escola ou de turma, amenizar a super-proteção dos
pais, estimular a leitura em casa etc, e as indicações que são os atendimentos
que se julgue necessário como psicopedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo,
neurologista etc.
Em casos de quadros psicóticos, neuroses graves ou
outras patologias, é necessário um tratamento psicoterápico inicial, até que o
paciente atinja um ponto tal que tenha condições de perceber a sua própria
necessidade de aprender e crescer no que respeita à escolaridade; é preciso que
se instale nele o desejo de aprender (Weiss, 2003, p. 136).
Muitas vezes faz-se necessário o encaminhamento
para mais de um profissional. E isto complica quando a família pertence a um
baixo nível socioeconômico. É importante que no momento da devolução o
psicopedagogo tenha algumas indicações de instituições particulares e públicas
que ofereçam serviços gratuitos ou com diferentes formas pagamento. Isto evita
que o problema levantado pelo diagnóstico não fique sem uma posterior solução.
O informe é um laudo do que foi diagnosticado. Ele
é solicitado muitas vezes pela escola, outros profissionais etc. Quaisquer que
sejam os solicitantes é importante não redigir o mesmo laudo, pois existem
informações que devem ser resguardadas, ou seja, para cada solicitante deve-se
redigir informações convenientes. Sua finalidade é “resumir as conclusões a que
se chegou na busca de respostas às perguntas que motivaram o diagnóstico” (Id.
Ibid., 2003, p. 138).
A mesma autora sugere o seguinte roteiro para o informe:
Dados pessoais;
Motivo da avaliação – encaminhamento;
Período da avaliação e número de sessões;
Instrumentos usados;
Análise dos resultados nas diferentes áreas: pedagógica, cognitiva,
afetivo-social, corporal.
Síntese dos resultados – hipótese diagnóstica;
Prognóstico;
Recomendações e indicações;
Observações: acréscimo de dados conforme casos específicos.
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Publicado em 07/01/2004 11:04:00