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PEDAGOGA - especialização em PSICOLOGIA ESCOLAR - Coordenação Josefina Castro e PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA, INSTITUCIONAL E HOSPITALAR - Coordenação da Pp - profª Genigleide da Hora - Mestranda em Educação Inclusiva.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O PEQUENO PRÍNCIPE SOCIALIZA COM ALUNOS, OS CUIDADOS COM A NATUREZA -

ESCOLA SANTA TEREZINHA
Construindo textos com histórias sequenciadas.
  

Trabalhando com panfletos.


VEJAM O DESENVOLVIMENTO DESTA ATIVIDADE NESTE LINK

http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=3629338177932382215&aid=1306814234

 EDITAREI AS AINDA HOJE!

BJOSSS 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

MARIA CECÍLIA CASTRO GASPARIAN - TEXTOS INDISPENSÁVEIS

A interdisciplinaridade como metodologia de trabalho nas questões de aprendizagem e a construção do conhecimento da escola e da família
 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1415-69542010000100011&script=sci_arttext

RESUMO
Este artigo pretende mostrar alguns pontos essenciais que definem a Interdisciplinaridade como um importante conceito e forma de atuação da Psicopedagogia. Na realidade a Interdisciplinaridade é um reflexo de mudanças que começamos a vislumbrar no atual modelo filosófico-científico-educacional. Como objetivo, pontuarei a possibilidade de trabalho na escola e na família dentro desta abordagem. Para que o presente artigo tenha um embasamento teórico e uma linha de pensamento definida, ele está consubstanciado nas visões ecológica, sistêmica, crítica e complexa, em que a Psicopedagogia também se embasa. A Interdisciplinaridade emerge como uma metodologia de trabalho e pontua diretrizes para uma prática psicopedagógica mais eficaz, possibilitando enfrentar os desafios da contemporaneidade onde a escola e as famílias com crianças com dificuldades de aprendizagem poderão adquirir mais habilidades e competências para lidarem melhor com seus problemas.
Palavras chave: Interdisciplinaridade, Metodologia, Educação, Psicopedagogia.

Introdução
"Os pais inconscientemente deixam a seus filhos a carga de refazer suas histórias, mas refazê-las de tal maneira que nada deveria mudar, apesar de tudo. O paradoxo em que a criança está presa produz logo efeitos violentos; com efeito, raramente há oportunidade de que a criança se realize em seu próprio nome." (M. Mannoni, apud Fernandes, p. 99).
O tema deste trabalho é amplo e complexo. Ele nos induz para várias reflexões que o espaço não permite explorar com profundidade, porém, isso não quer dizer que não o faremos com o rigor que este artigo requer.
Não posso desvincular deste tema minha formação em Psicopedagogia e em Terapia Familiar, por serem parte de mim e de minhas atividades, sendo estas de cunho profundamente interdisciplinar e estarem intimamente relacionadas com as questões de aprendizagem. Como tal abordarei as questões que envolvem a metodologia interdisciplinar e suas implicações no trabalho com a escola e com famílias com crianças com dificuldades de aprendizagem. Portanto, procurarei mostrar como poderemos articular cada conhecimento específico em determinadas áreas, lançando mão ora dos conhecimentos psicopedagógicos, ora de conhecimentos no campo da terapia familiar, ora de formação continuada de professores formando um saber interdisciplinar.
O tema nos leva a pensar sobre os ambientes em que o aprendiz se encontra e isso implica analisar os contextos social, familiar e escolar.
Não querendo abrir espaço para uma infindável polêmica sobre a qualidade do ensino e suas relações pedagógicas, pretendo dirigir meu olhar aos aspectos da constituição familiar e da constituição escolar, duas instituições sócias que se propõem, cada uma com sua peculiaridade, à formação do ser humano e do cidadão. A primeira com o objetivo de formar o caráter ético e moral e a segunda com a intenção do ensino formal, visando um futuro cidadão reflexivo e participativo na comunidade onde está inserido.
Pensar as questões de aprendizagem do ponto de vista da Interdisciplinaridade é formar um caleidoscópio multifacetado de conhecimentos, porque além de envolver as questões, acima relacionadas, abrange também as questões de vários campos de saberes nele incluído - a de formação de professores, pois a escola é a primeira instituição a denunciar as dificuldades do aprendiz e, sem dúvida, é a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem, pois é nela que os sintomas das dificuldades de aprendizagem emergem.
A Psicopedagogia por ser um campo do conhecimento interdisciplinar pode contribuir, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios, nesses processos instalados, muitas vezes, na própria instituição, a qual cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo. Afinal, é a escola a responsável por grande parte da aprendizagem do ser humano.
Porém, é nas relações entre os indivíduos que se forma o cidadão, é através da aprendizagem que a pessoa é inserida, de forma mais organizada, no mundo cultural e simbólico, na sociedade. Cabe à escola o papel de mediadora nesse processo de inserção no organismo do mundo. Cada sujeito tem uma história pessoal, da qual fazem parte várias histórias: a familiar, a escolar, e outros grupos sociais que articulados atuam na formação do indivíduo. Depois da família, a escola tem, portanto, um papel importante na formação deste sujeito, podendo contribuir ou não para o desenvolvimento de distúrbios que são tratados em instituições paralelas.
A formação em Terapia Familiar me auxilia a ver a família como co-responsável pelo sintoma do não aprender da criança e vai colaborar na compreensão das relações entre dinâmica familiar e as dificuldades em aprender. Esse olhar interdisciplinar e psicopedagógico sobre o problema de aprendizagem possibilita a compreensão sobre as dificuldades de aprendizagem não focalizadas no aprendiz, mas e sim redistribuídas entre os sintomas familiares e escolares. Sabemos o quanto sofre uma família nos dias atuais e quanto esse sofrer, em diferentes níveis, afeta o processo de aprendizagem de um indivíduo. Assim, um trabalho psicopedagógico com enfoque interdisciplinar, levando em conta as relações em rede entre família, escola, terapeuta e professores, poderá oferecer melhores condições para resolver os problemas que emergem no núcleo escolar e familiar, em um determinado momento.
Ao trabalharmos em rede, temos a possibilidade de refletir sobre a complexa série de relações inter e intrapessoais existentes numa escola e numa família. Com um efetivo trabalho integrado entre escola e família.
Há alguns anos atrás as dificuldades de aprendizagem eram atribuídas apenas às crianças e o olhar era de cunho médico, ou seja, elas não aprendiam porque eram desnutridas ou oriundas de classes sociais menos privilegiadas ou por distúrbios neurológicos. A culpa era sempre do aprendiz e nunca do ensino. Só mais recentemente é que nosso olhar volta-se para a família e para a escola como co-responsáveis pelo baixo desempenho escolar de suas crianças.
Tenho a convicção de que, seja qual for a etiologia da dificuldade de aprendizagem (neurológica, emocional, cognitiva ou genética), o psicopedagogo, em conjunto com a família e a escola, poderá resolver esta situação. A Psicopedagogia poderá auxiliar nas áreas relacionadas ao planejamento educacional, assessoramento pedagógico que requer a formação continuada de professores e a elaboração de planos educacionais, eminentemente transformadores.
O campo de atuação psicopedagógico institucional, até então discreto, pode ser classificado como uma modalidade de transformação de atitudes do professor relativas ao ato de ensinar. Esta proposta psicopedagógica é muito mais ampla e complexa do que podemos imaginar e é ainda pouco explorada. Sobre o trabalho psicopedagógico na escola, há muito a fazer e exigirá uma mudança paradigmática da Ciência da Educação, de visão de mundo e, consequentemente, da concepção sobre as pessoas, frente aos desafios da modernidade.
Grande parte da aprendizagem ocorre dentro da instituição escolar, na relação com o professor, com o conteúdo e com o grupo social escolar. É por isso que atualmente, devido a inúmeros estudos nesta área, se propõe uma visão embasada na Interdisciplinaridade, onde as inter-relações dos saberes têm grande relevância. A escola evidencia e denuncia as distorções decorrentes da falta de um embasamento teórico mais adequado, mas não tem ainda condições de resolver essa questão.
Algumas famílias manifestam sua decepção, desaprovação e frustração, tendo em vista os maus resultados escolares de seus filhos. Outras podem apresentar total indiferença e completa ausência de interesse pelas dificuldades da criança. Entretanto, o que se apresenta em comum entre estas duas atitudes é que ambas afetam o individuo em sua totalidade, impedindo que ele cresça de forma natural, harmônica e satisfatória.
Sendo a Psicopedagogia um campo do saber, seu objetivo é estudar e analisar as questões relacionadas ao processo de aprendizagem e ou seu tratamento, preocupando-se com as relações entre quem ensina e quem aprende. Estes objetivos mesclam-se com outros relativos à forma como se desenvolvem os conteúdos escolares, levando em conta os processos de desenvolvimento congnitivo e emocional da criança e a aquisição da linguagem, sem deixar de considerar o enfoque interdisciplinar. Por outro lado, a terapia familiar, numa abordagem sistêmica, procura ressignificar questões sobre a dinâmica familiar, dentro de uma concepção de sistema, enfatizando os processos relacionais e intergrupais e a forma como o grupo familiar lida com sua aprendizagem.
Sabemos que não existe uma só causa para o fracasso escolar, mas sim uma conjunção de fatores que interagem, uns com os outros e que imobilizam o desenvolvimento do sujeito e do sistema familiar, num determinado momento.
 Fundamentação teórico-metodológica
"(...) a metodologia interdisciplinar em seu exercício requer como pressuposto uma atitude especial ante o conhecimento (...) parte de uma liberdade científica, alicerça-se no diálogo e na elaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar, de ir além e exercitar-se na arte de pesquisar não objetivando apenas uma valorização tecnoprodutiva ou material, mas, sobretudo, possibilitando uma ascese humana, na qual se desenvolva a capacidade criativa de transformar a concreta realidade mundana e histórica numa aquisição maior de educação em seu sentido lato, humanizante e libertador do próprio sentido de ser-no-mundo." (FAZENDA, 1999, p. 11.)
Educar sempre foi um dos processos mais paradoxais, complexos e difíceis, principalmente nos dias atuais, mas não há dúvida de que essa tarefa torna-se ainda mais relevante nos tempos incertos que vivemos. A Interdisciplinaridade surge como uma força catalisadora, regenerativa e curativa, que possibilita fortalecer os laços que unem os projetos interdisciplinares em direção a uma educação inovadora. É uma tendência que desponta, trazendo novas esperanças para o processo de ensino e de aprendizagem. Há obstáculos a enfrentar relacionados ao choque entre valores e abordagens dos diferentes setores da comunidade educacional, à diversidade social e cultural, ao consumismo e à exclusão social. É preciso conhecer a fundo tais desafios para poder questioná-los, tanto do ponto de vista ético quanto educacional.
Em outras palavras, o sistema educacional e familiar, como espaço de aprendizagem e convivência, deve oferecer os instrumentos necessários para possibilitar a aprendizagem em que o respeito à diversidade seja a tônica. Tal aprendizagem deve se basear na vivência das regras e dos valores da democracia, no respeito aos direitos humanos e na diversidade e cumprimento das regras e deveres a eles inerentes. A educação deve ser prioritária, pois só ela pode proporcionar, a longo prazo, maiores garantias para o desenvolvimento integrado do sujeito e para a conquista da saúde e do bem comum.
Surge, então, a possibilidade de uma resposta a todos esses questionamentos sobre o por quê da Interdisciplinaridade. Frente aos desafios sobre o aprender e o desenvolvimento humano, temos de usar novas metodologias e estratégias, baseadas em uma diferenciada maneira de ver o mundo e as pessoas. Segundo Fazenda (1991), a Interdisciplinaridade, por ser uma categoria de ação, está vinculada a atitudes frente à vida bem diferente em relação ao que era há alguns anos atrás. A partir da prática psicopedagógica, surge uma proposta interdisciplinar no contexto das instituições de ensino, como uma forma de superação da fragmentação quando o conhecimento se apóia exclusivamente em disciplinas. Essa prática interdisciplinar, no contexto da sala de aula, implica na vivência do espírito de parceria, de integração entre teoria e prática, conteúdo e realidade, objetividade e subjetividade, ensino e avaliação, meios e fins, tempo e espaço, professor e aprendiz, reflexão e ação, dentre os múltiplos fatores integrantes do processo pedagógico.
Embora muito se tenha discutido sobre a Interdisciplinaridade, há necessidade de cautela diante das construções e divulgações distorcidas e por isso os conceitos podem ser mal compreendidos e mal aplicados, conduzindo práticas sofríveis.
Minha hipótese de trabalho é que, por meio de um projeto político da escola, o novo modelo filosófico, científico e pedagógico da Interdisciplinaridade seja introduzido, produzindo uma alteração de visão de mundo em que se apresenta um círculo de mudanças: o novo modelo filosófico-científico altera os conceitos pedagógicos e este, por sua vez, influencia na nova concepção de convivência que socializará a nova conceituação de ciência. Esta, por sua vez, influencia na educação para as gerações vindouras, em decorrência das necessidades de sustentabilidade do planeta.
A Educação, por meio da Interdisciplinaridade, deve assumir como de sua responsabilidade o ato de desfraldar e conduzir a bandeira de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida, baseados no Amor, no respeito à vida, na promoção e prática da não-violência, no diálogo e na cooperação. Desse modo, a Educação se encontrará um passo à frente na evolução da humanidade.
 A interdisciplinaridade e suas implicações
O interesse em trazer a Interdisciplinaridade para a discussão no presente artigo decorre fundamentalmente da importância crescente deste enfoque na Educação, relativo à crítica que se levanta sobre o modelo científico moderno que até então nos alicerçava. A Interdisciplinaridade, por pertencer a um novo modelo filosófico-científico-pedagógico, aponta para outras possibilidades de atuações, além de auxiliar o professor a educar as gerações vindouras, frente aos problemas cada vez mais complexos da contemporaneidade. Ela surge como resposta aos limites do modelo da modernidade, caracterizado pela simplificação, redução e fragmentação da realidade que não mais responde às necessidades e perguntas dos educadores e pesquisadores.
A idéia de superação da fragmentação do ensino não é nova. A concepção do currículo, proposta no final do século passado, já indicava uma preocupação com os efeitos nocivos da fragmentação e procurava oferecer o instrumento conceitual necessário ao estabelecimento da unidade de ensino. A Interdisciplinaridade refere-se, portanto, a uma concepção que veio evoluindo gradativamente e se caracteriza como transformação, como vivência intuitiva e experiência humana, em que há elaborações e reelaborações, levando em conta o situar-se no contexto histórico, a síntese de normas criadoras e a capacidade de pensar sobre a própria racionalidade. Ela nos auxilia nessas questões, postulando cinco princípios que consubstanciam a prática pedagógica e que Fazenda explicita com muita propriedade:
A metáfora que subsidia, determina e auxilia sua efetivação [da Interdisciplinaridade] é a do olhar, metáfora que se alimenta de natureza mítica e diversa. Cinco princípios subsidiam uma prática interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego. (FAZENDA, 2002, p.11.)
A Interdisciplinaridade está intimamente ligada à transformação porque tem como princípios, segundo Fazenda (1999), a humildade, a esperar, a coerência, o respeito e o desapego. Humildade em reconhecer que construímos um mundo e não o mundo com o outro. Esperar o momento certo para atuar e dialogar. Coerência entre o que pensamos e o que fazemos. Respeito por si próprio e pelo outro, pelo fato do outro ser diferente de mim, mas que não está necessariamente contra mim. Desapego tanto de bens intelectuais quanto de bens materiais, significando a condição de estar aberto às novas idéias. Esses princípios, se exercitados, fatalmente nos conduzirão a uma prática interdisciplinar, abrindo-se às novas possibilidades para as intervenções em sala de aula e para as experiências existenciais.
O estabelecimento de uma prática interdisciplinar provoca uma sobrecarga de trabalho, como toda e qualquer ação em que não se está habituado a fazer. Há um certo medo de errar e de perder privilégios e direitos adquiridos. A orientação pelo enfoque interdisciplinar, direcionada para a prática pedagógica, implica em romper hábitos e acomodações, movimentando-se em busca do novo e do desconhecido. O trabalho interdisciplinar não descarta o velho modelo, mas o transforma em novo. (FAZENDA, 1999.) Dados os riscos de desequilíbrio e de incertezas geradas pelas mudanças de atitudes, o estabelecimento da Interdisciplinaridade provoca reações de resistência, apesar de aceitação intelectual. Há uma ambiguidade entre desejar e aceitar essa abordagem, não pelos valiosos resultados que possa produzir e sim pelo desalojamento de posições confortáveis já automatizadas. O fundamental, portanto, no desenvolvimento da Interdisciplinaridade é uma questão de atitude. (FAZENDA, 1999.)
No mundo globalizado de hoje fica explícito a interdependência no viver e no pensar, em que a realidade, o pensamento e a ação não são mais individuais e sim interconectados, fazendo-nos pensar globalmente e agirmos localmente. A metáfora do mundo não é mais uma máquina, mas o holograma (do grego holos, todo), ou seja, em cada parte está contido o todo que, por sua vez, se encontra em cada uma das partes, fato que nos leva ao compromisso, tendo em vista esta dinâmica e as dimensões das ações e pensamentos humanos relativos às partes e ao todo.
As pessoas, de um modo geral, tendem a olhar o ensino, que tem como princípio democrático várias tendências metodológicas, como um espaço em que as práticas são exercidas, sem levar em conta os critérios necessários adotados. Penso, porém, que atualmente o ensino, de um modo geral, sinaliza que está chegando a um ponto de grande maturidade em direção à radical transformação. Muitos educadores já atuam como interdisciplinares, sem se darem conta disso, por não mais se satisfazerem com práticas que reforçam as fragmentações. e estagnações. Todos os pesquisadores da Interdisciplinaridade, cada um a seu modo, procuram destacar em seus trabalhos a importância das construções do conhecimento segundo esses pensamentos recentes, incorporados e desenvolvidos no campo da Educação, imprimindo uma dinâmica e uma metodologia de pesquisa, com amplas possibilidades para uma prática pedagógica mais significativa, tanto para o professor quanto para o aluno. Para que isso ocorra de uma maneira eficaz e não apenas superficial, será necessária uma transformação profunda em nosso modo de pensar e agir. Esse exercício deve ser visto como um processo contínuo, que se inicia no desejo do professor de superar os limites impostos em cada campo do saber, com o desejo de aprender a aprender. É relevante considerar os estágios de consciência que demonstram diferentes níveis de compreensão para considerar a disciplina, não como um sistema isolado, mas um campo livre e aberto para novos saberes.
Em minha prática como psicopedagoga e orientadora, com enfoque interdisciplinar nos cursos de formação continuada de professores, verifico a grande dificuldade que todos nós temos nestes voos, como disse o professor Ubiratan D Ambrosio em um dos encontros com o Grupo de Pesquisa da Interdisciplinaridade: Devemos abrir as gaiolas em que nos encontramos aprisionados, as gaiolas das disciplinas.
Através de encontros regulares com os professores, estes vão percebendo que suas disciplinas não dão conta para responder a todas as questões sobre o conhecimento e que, no decorrer dos encontros, as construções vão se delineando por meio do trabalho coletivo, no qual há solidariedade e colaboração mútua para o melhor entendimento do seu campo, questionando muitas vezes o seu próprio conhecimento restrito e a forma como seu trabalho é produzido.
Assim, ao trabalhar os princípios da Interdisciplinaridade com um grupo de professores, apresentam-se propostas para a construção de valores que conduzam a uma nova relação entre o grupo e seu campo de conhecimento. Depois de alguns encontros, emergem do grupo algumas sugestões para que se conquistem novas metas, subindo os degraus da Interdiscipçinaridade. É relevante sinalizar os seguintes princípios da Interdisciplinaridade: 1) superar as inseguranças para expressar-se com a crítica construtiva; 2) aceitar idéias novas; 3) desenvolver maior autoconfiança, aceitando a possibilidade de errar; 4) fazer autocrítica contínua, com autocompreensão e análises das práticas; 5) respeitar seus próprios limites e os limites de cada um; 6) dar tempo ao outro para que se manifeste em suas opiniões; 7) trabalhar cooperativamente.
Lembro que estes trabalhos, desenvolvidos na formação de profissionais, foram também utilizados nas orientações terapêuticas familiares.
Apesar de já estabelecido um rol de competências, há outro grande desafio para o trabalho interdisciplinar, relacionado à impaciência que todos nós temos. Queremos tudo para ontem, não sabemos esperar. A paciência é uma grande virtude, principalmente na sociedade atual, em que o imediato e o descartável são cultuados. Um dos princípios da Interdisciplinaridade é a espera que possibilita observar todos os fenômenos que pudermos capturar no tempo e no espaço e refletir e agir no momento mais adequado. Este processo requer não esperar demais e nem se precipitar, antecipando os fatos.
Aprender a conter a angústia e a ansiedade também é fator decisivo para uma real transformação. Não existe receita ou fórmulas miraculosas, o que há é o esforço pessoal e coletivo para que isso ocorra.
Torna-se nítido, nessa aprendizagem com enfoque interdisciplinar, perceber o nível de maturidade individual e coletiva dos envolvidos. Segundo Sommerman (2006, p. 63,64) a Interdisciplinaridade se expressa de formas variadas, transitando de um nível mais fraco e simples para um outro mais forte e cada vez mais complexo. Não podemos rotular como não sendo interdisciplinar a prática inicial daqueles que se esforçam para aperfeiçoá-la.
Outro fator que temos de levar em conta quando trabalhamos com formação de professores e com famílias, é o fato de que o comportamento humano se expressa através da dinâmica de forças polarizadoras que, associadas dialeticamente, podem, no entanto, se manifestar em certos momentos como um conjunto de circunstâncias e avaliações, num jogo entre as polarizações. Por exemplo, há movimentos e dimensões de comportamentos que vão do total egoísmo ao profundo altruísmo; da omissão à participação; do individualismo ao espírito de grupo; do isolamento ao engajamento; da acomodação à ação; e assim por diante. São estes os paradoxos que todos nós enfrentamos no nosso cotidiano. (LÜCK, 1994.)
Como não conseguimos nos atualizar tão rapidamente frente ao volume de informações e às exigências da sociedade contemporânea e considerando que as transformações de hábitos e atitudes são lentas e dolorosas, o desenvolvimento desse processo, com foco nas mudanças, demanda a necessidade do tempo de espera, do tempo para vivenciar os conceitos, do tempo para ver e rever hábitos e atitudes, que de tão vividos e incorporados, não nos apercebemos que os praticamos.
Assimilar esses princípios não é uma tarefa fácil e muitas vezes nos tornamos vítimas e algozes de nós mesmos. Isso me faz pensar que podemos fazer escolhas. Não precisamos necessariamente sentir culpa ou nos considerarmos vítimas. Acredito que há necessidade da humildade para assumir responsabilidades por nossos atos, imbuídos de coragem e ousadia suficientes para tomar iniciativas criativas visando à superação dos obstáculos. Outro fator significativo para esta conquista educacional e pessoal refere-se ao desapego de hábitos e idéias que entravam nosso desenvolvimento, libertando-nos para a ação e o pensamento possibilitado pelas relações de respeito e trocas complementares com o outro.
A Interdisciplinaridade, portanto, não conduz à profunda reflexão sobre nossa prática, nossa vida, nossas relações inter e intrapessoais, facilitadas pelo diálogo entre os protagonistas internos e externos que colaboram para esta reconstrução.
De uma maneira mais simples, mas sem ser simplista, a Interdisciplinaridade, como já dito acima, é uma nova abordagem filosófica, científica, cultural e social. Seu objetivo é a compreensão do homem e a transformação de sua prática. Tudo isso deve ser traduzido em nossas ações psicopedagógicas, em que o diálogo com o outro e o respeito à história de vida dos envolvidos são fatores fundamentais para o aprimoramento das construções. São necessárias as possíveis conexões, a fim de planejar e executar os trabalhos relativos ao ensinar e ao aprender, com uma maior abrangência, construindo uma rede de informações com sentido, tendo em vista o triplo significado: sensação, sentimento e direção.
Sabemos que quanto mais nos dedicarmos ao nosso campo de conhecimento (nossa especialidade), mais limitado ele se torna para responder a todas as questões colocadas. É nesse cenário que, ao questionarmos nossa especialidade, surgirão respostas vindas de outros campos (outras especialidades) de saber, constituindo-se um caleidoscópio multifacetado de informações. Assim, lançar mão de outros saberes para instigar novos questionamentos é o que forma o tecido único e original de cada psicopedagogo.
Essa mudança de concepção desvela novos espaços e saberes, em que o diálogo entre o modelo positivista moderno e a proposta de alternativas para superação deste possibilitam alargar a concepção de racionalidade da ciência moderna e articular o conhecimento existente, produzindo novos conhecimentos.
Os avanços no campo do conhecimento foram se tornando tão complexos que nos conduziram à concepção de não-linearidade em oposição à linearidade, a simplificação, além de constatar a impossibilidade de se separar o pesquisador (observador) do seu objeto de pesquisa. Ou seja, ao pesquisar fazemos também parte desta pesquisa. Por mais imparciais que sejamos, teremos sempre o nosso olhar sobre o objeto pesquisado, imprimindo inconscientemente nossos desejos, angústias, ansiedades, vivências, etc., dando um cunho pessoal, por mais impessoal que seja a pesquisa. Como diz Fazenda (anotações nos encontros do GEPI): Temos apenas um projeto existencial e é dele que partem todas as nossas ações. Descobrir esse projeto é a essência para uma vida com significado.
Para Morin, por exemplo, o paradigma da simplificação, característico da ciência moderna
determina um tipo de pensamento que separa o objeto de seu meio, separa o físico do biológico, separa o biológico do humano, separa as categorias, as disciplinas, etc. (...) Por isso, as operações comandadas por esse paradigma são principalmente disjuntivas, principalmente redutoras e fundamentalmente unidimensionais (...) chega-se a um puro catálogo de elementos não ligados (...). Por outras palavras, o paradigma da simplificação não permite pensar a unidade na diversidade ou a diversidade na unidade, as imitas multiplex só permitem ver unidades abstratas ou diversidades também abstratas, porque não coordenadas. (MORIN, 1983. p.31.)
O pensamento de Morin revela a grande dificuldade que a ciência típica do mundo moderno enfrenta: o seu próprio limite. Esse limite é inculcado em nós de tal maneira que não nos apercebemos de que temos outras possibilidades e isso se torna realidade em nossa prática e não apenas uma realidade possível.
Criamos modelos e aceitamos as imposições dos mesmos, sem questionar. Thomas Khun, em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, nos diz que paradigmas são modelos aceitos como dominantes por dada comunidade científica, cuja função é direcionar toda pesquisa em sua área. Portanto, é a comunidade científica que determina e define quais questões podem ser formuladas a respeito das coisas existentes no mundo e que técnicas podem ser empregadas na busca de soluções. Essa atitude nos coloca em uma camisa-de-força que nos impede de criar, inovar, articular e ousar. Sentimos medo de ser diferentes, pois não queremos correr o risco de sermos ridicularizados ou questionados sobre o que fazemos ou pensamos.
Antes que seja aceito um novo modelo, tudo é mais difícil e complicado, porque surgem muitas teorias focando a atividade científica. Para que uma idéia se torne um paradigma, ela precisa amadurecer a fim de fornecer respostas mais seguras e coerentes.
A Interdisciplinaridade pertence a esse novo modelo de pensamento, muitas vezes mal interpretado, já que olhamos para ele com os olhos da ciência moderna positivista. Há necessidade, portanto, de alterar nossa forma de olhar o fenômeno educativo e da aprendizagem. Quais seriam as bases para este olhar diferenciado?
Segundo Sommerman (2006, p. 37-39)
(...) duas teorias teriam cooperado muito para fomentar a pesquisa interdisciplinar: o Estruturalismo e a Teoria Geral dos Sistemas. O estruturalismo, embora criado pelo linguista Saussure (1857-1913), visando descobrir as estruturas abstratas por trás das línguas, expandiu-se para muitas outras áreas, especialmente com os trabalhos do antropólogo Claude Levi-Strauss na década de 50, nos quais este procurou mostrar que por trás das culturas mais diversas há estruturas profundas comuns, que aparecem como que em camadas. A Teoria Geral dos Sistemas foi formulada pelo filósofo e biólogo Ludwig von Bertalanffy na década de 60. (...) Ele chamou a atenção para a existência, naquela época, de duas vertentes básicas nas ciências dos sistemas: uma, mecanicista; outra organicista. A primeira correspondia à sua teoria Geral dos Sistemas e a segunda à Teoria Cibernética.
Não é minha intenção neste momento discorrer sobre essas teorias, cabe apenas dizer que a Interdisciplinaridade está fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas, na Cibernética de segunda ordem, em que o observador influencia e é influenciado pelo fenômeno observado, e na Teoria da Complexidade do conhecimento e do homem. A título de contextualização e licença didática simplificarei os princípios básicos e as propriedades gerais do modelo sistêmico que englobam também, em alguns aspectos, a Cibernética de segunda ordem a Complexidade2:
- Globalidade: o sistema é uma totalidade. Aquilo que chamamos de parte é um mero padrão numa teia inseparável de relações. O sistema caminha como um bloco, agindo e interagindo para a sua evolução.
- Retroalimentação ou feedback: as partes de um sistema unem-se através de uma relação circular. Exemplo: o comportamento de cada pessoa afeta e é afetado pelo comportamento de cada uma das outras integrantes do grupo.
- Homeostase e transformação: todo sistema tem um processo de regulação, reestabelecendo o equilíbrio entre acomodação e assimilação. Cada sistema desenvolve formas básicas, específicas de crescimento e transformações. Exemplo: há uma sequência padronizada de comportamentos, de caráter repetitivo, que garante a organização de um sistema grupal, que permite um mínimo de possibilidade sobre a forma de agir de seus membros.
- Equifinalidade: comportamentos diferentes podem criar a mesma consequência. Refere-se a uma característica automodificável dos sistemas. Exemplo: na família e na escola, os resultados são determinados mais pela natureza do processo do que pelas condições iniciais do sistema. Assim, os mesmos resultados podem derivar de condições iniciais diferentes e resultados diversos podem advir de circunstâncias semelhantes, o que indica que os parâmetros do sistema predominam sobre as condições iniciais.
Através do pensamento sistêmico conquista-se maior flexibilidade nas ações e a ampliação da visão sobre as contribuições das disciplinas que se complementam, abrindo-se as fronteiras e rompendo barreiras para um ensino mais significativo.
Olhamos então o todo e não só as partes. A Interdisciplinaridade ressalta que as propriedades das partes só podem ser entendidas a partir da dinâmica do todo. Para a Interdisciplinaridade não existe parte, ela é meramente um padrão numa inseparável teia de relações. Neste enfoque, a estrutura é vista como uma manifestação de um processo subjacente, em que se enfatiza mais o processo que a própria estrutura. O estudo interdisciplinar acredita que a ciência objetiva cederá lugar para a subjetiva e intersubjetiva, porém uma das grandes características é a mudança da idéia de construção em rede, como metáfora do conhecimento. Na medida em que a realidade é percebida como uma rede de relações, as descrições de um indivíduo formam igualmente uma rede em que se relacionam múltiplos fatores.
Outra propriedade do pensar sistêmico refere-se às mudanças de descrições verdadeiras para descrições aproximadas, com isso a Interdisciplinaridade reconhece que todos os conceitos, todas as teorias e todas as descobertas não são estagnadas, mas dinâmicas que se aproximam para as conexões e construções.
Vemos, portanto, que a ciência moderna se inscreve na racionalidade como elemento definidor deste pensamento e desta conduta. (SOMMERMAN, 2006.) Este modelo, então, passa a negar qualquer outra forma de conhecimento que não esteja de acordo com seus princípios epistemológicos e com as regras metodológicas com que foram convencionadas e por si só tomadas como garantia de um critério da verdade.
Com esse posicionamento, o processo de conhecimento fecha-se em compartimento e a ciência moderna rompe radicalmente com a tradição do pensamento clássico. Essa ruptura se manifesta na dissociação entre saberes e práticas, indivíduo e sociedade, local e global, sujeito e objeto, objetivo e subjetivo. A ciência passa a trabalhar apenas com temas e problemas delimitados e especializados, caracterizando-se por uma fragmentação sempre crescente do saber e tendo o espaço disciplinar como seu principal sentido e finalidade.
A crescente complexidade da realidade faz o ser humano se sentir despreparado para enfrentar os problemas globais, que exigem dele uma formação orientada para a visão globalizadora (no sentido holístico) da realidade e uma atitude contínua de aprender a aprender.
No contexto escolar, o conhecimento já produzido é submetido, novamente, aos tratamentos metodológicos analíticos e lineares, agora com o objetivo didático de facilitar a sua apreensão pelos estudantes.
O objetivo didático, visto dessa forma, promove nas instituições de ensino um distanciamento mais acentuado do conhecimento, em relação à realidade de que emerge.
Instala-se, então, na escola a ênfase sobre informações isoladas que passam a valer por elas mesmas e não por sua capacidade de ajudar o ser humano a compreender o mundo e sua realidade e a posicionar-se diante de seus problemas vitais e sociais. Descuida-se, igualmente, do processo de apropriação crítica e inteligente do conhecimento e mais ainda de sua produção, uma vez que o ensino, em geral, centra-se na reprodução do conhecimento já produzido.
Consequentemente, o ensino deixa de formar cidadãos capazes de participar do processo de elaboração de novas idéias e conceitos, tão fundamental para o exercício da cidadania crítica e a participação na sociedade contemporânea, em que tanto se valoriza o conhecimento.
A falta de contato do conhecimento com a realidade parece ser uma característica acentuada nas instituições de ensino. Os professores, no esforço de levar seus alunos a aprender, fazem-no de maneira a dar importância ao conteúdo em si e não à sua interligação com a situação da qual emerge, gerando a já clássica dissociação entre teoria e prática. (LÜCK, 1994.)
A Interdisciplinaridade não consiste em uma desvalorização das disciplinas e do conhecimento produzido por elas, mas aponta caminhos para elaboração do conhecimento. Isso faz com que um conhecimento dialogue com o outro, mas também faz com que ambos se modifiquem gradativamente. Morin afirma que:
O problema não está em que cada uma perca a sua competência. Está em que a desenvolva o suficiente para articular com outras competências (disciplinas e conhecimentos) que, ligadas em cadeia, formariam o anel completo e dinâmico, o anel do conhecimento do conhecimento. (MORIN,1999, p.32.)
O professor entra, necessariamente, nesse circuito; afinal, ele é o responsável pelas interconexões significativas entre um saber e outro, de modo que refletirá sobre seu modo de pensar os conhecimentos, estabelecendo o sentido de integração consigo mesmo e dele para com a realidade, resultando em uma verdadeira ciranda de conscientização. Esse diálogo é caracterizado por atividades mentais como: refletir, reconhecer, situar, problematizar, verificar, refutar, especular, relacionar, relativizar e historiar. Ele ocorre na interface entre uma e outra, e entre elas e o quadro referencial do indivíduo cognoscente, de modo que, por essa rotatividade, constrói um saber consciente e globalizador da realidade. (LÜCK, p.69.)
A Interdisciplinaridade surge, então, para dar um contorno prático-pedagógico na teoria sistêmica ao pontuar que as disciplinas conversam e se articulam na medida em que o professor encontre um significado pessoal para isso. Não existe imposição, mas um convite natural, ao estudar seu percurso profissional, para que esta ampliação de sua visão disciplinar se torne interdisciplinar. Muitos professores já praticam este movimento sem se dar conta de que são interdisciplinares, porém, a sutil diferença está na atitude, pois a Interdisciplinaridade é uma categoria de ação.

Da prática pedagógica interdisciplinar
A Interdisciplinaridade nos induz a uma prática que pode conduzir a universos nunca antes explorados. Essa é apenas uma das riquezas deste campo que possibilita entrar por várias portas, descobrir inúmeras possibilidades de condução da prática, redimensionando o papel da educação como uma ciência multifocalizada e pluridimensionada, em que a perspectiva da diversidade é exigida como pré-requisito. (FAZENDA, 1999.)
A metáfora mais adequada que encontro para simbolizar a Interdisciplinaridade é o caleidoscópio, uma percepção do movimento do campo em que exige a compreensão sobre a dinâmica e a transcedência (talvez por isso mais radical) de nossa prática, que necessita do cuidado técnico, ecológico, crítico, reflexivo, ético e estético, e não apenas de uma simples retomada teórica sobre os aspectos sociológicos e psicológicos que subsidiaram a educação no final do século passado e ainda se fazem presentes no início deste novo século.
Estamos tão habituados à ordem formal que nos incomodamos quando desafiados a pensar em outra base, ou em uma nova ordem, em que a complexidade, os movimentos de inter-relações e de aproximações, o contexto, a estrutura são fatores relevantes.
Um primeiro passo para aquisição conceitual interdisciplinar seria o questionamento e a reflexão das posições acadêmicas. Devemos abandonar as atitudes prepotentes, unidirecionais, que são fatalmente restritivas, impedindo-nos de tentar novas possibilidades. Essas atitudes acabam por obscurecer nosso olhar, imprimindo preconceitos frente ao novo.
Um outro passo seria uma reflexão sobre as práticas em sala de aula e as histórias de vida, nas quais aparecerão, de maneira inevitável, as competências latentes e não só as manifestas. Nesse sentido, ao entrar em contato com a história de sua vida, por meio da memória retida e ativada, o professor e a família entram em contato com seus percursos e com a intensidade das buscas que empreendeu enquanto se formava, com as dúvidas que tinha e a contribuição delas para seu projeto existencial.
Portanto, a memória é um fator muito importante para o trabalho interdisciplinar com o professor e com as famílias, em que o projeto existencial é decisivo em uma tomada de atitude, pois é o que nos permitirá a análise e a projeção dos fatos. Um professor competente e uma família, quando submetidos a um trabalho com memória, resgatam e recuperam a origem de seus projetos de vida.
Grande parte do trabalho e da pesquisa de Fazenda sobre o campo interdisciplinar foi alicerçada nos estudos da psicologia analítica de Jung, porém esse foi um dos muitos aportes teóricos utilizados ao longo de suas pesquisas. A classificação abaixo, que ela mesma chama de preliminar, foi realizada apenas com o propósito de compreender diferentes óticas na questão das competências.
1. Competência intuitiva: o professor não se contenta em executar o planejamento elaborado: ele busca sempre alternativas novas e diferenciadas para seu trabalho. Assim, a ousadia acaba sendo um de seus principais atributos.
2. Competência intelectiva: a capacidade de refletir é tão forte e presente nele que imprime esse hábito naturalmente a seus alunos. Analítico por excelência, privilegia todas as atividades que procuram desenvolver o pensamento reflexivo.
3. Competência prática: a organização espaço-temporal é o seu melhor atributo. Tudo ocorre conforme o planejado. Usa com requinte técnicas diferenciadas. Ama a inovação. Copia o que é bom, pouco cria, mas, ao selecionar, consegue bons resultados.
4. Competência emocional – uma outra espécie de equilíbrio é constatada no emocionalmente competente, uma competência de leitura da alma. Ele trabalha o conhecimento sempre com base no autoconhecimento. A inovação é sua ousadia maior.
Essas quatro competências, descritas por Fazenda, nos dão uma síntese do que seria o sentido de uma atitude interdisciplinar. Essa é uma atitude que, na alquimia que a Interdisciplinaridade exige, transcende a todas as competências e se aloja e se mescla nelas, fazendo parte de todas e de nenhuma em particular. O professor com a atitude interdisciplinar utiliza-se de todas as competências a cada momento. Preciso como um bisturi, ele corta, insere, retira e opera em um instante kairológico3 do processo de ensino e aprendizagem, oferecendo significado para seus alunos e desenvolvendo o sentido do coletivo, da parceria e de grupo. É aquele que escuta olhando e enxerga ouvindo.

A título de conclusão
Ainda é incipiente, no contexto educacional, o desenvolvimento de experiências voltadas para a prática intencional de construção interdisciplinar em que se evidenciam o professor e aprendiz pesquisadores. Em vista da falta de padrões de referência, existe também muita insegurança a respeito dessa prática, com questionamentos sobre ela, segundo parâmetros de segurança para a compreensão do processo.
Lück pontua que alguns esforços são necessários para que professores se engajem no processo de construção de uma prática interdisciplinar. O primeiro caracteriza-se pela construção em equipe e pelo estabelecimento do diálogo entre professores, de modo que conheçam as contribuições de cada um. O segundo diz respeito à necessidade de se questionar sobre o próprio conhecimento e sua forma de processar, levando em conta a postura e percepção de pesquisador.
O segundo passo corresponde ao estágio de maturidade coletiva dos professores. A prática interdisciplinar se expressa segundo diferentes níveis de conscientização do processo. Há necessidade de estarmos atentos às rotulações em relação a ser ou não interdisciplinar, por não levar em conta os níveis de consciência e as diferenciações de percepções e de aprendizagem das pessoas, frente à complexidade do homem e do conhecimento.
Não há receitas para a construção interdisciplinar na escola. Ela se constitui em um processo de intercomunicação de professores, que não é dado previamente e sim construído por meio de trocas e diálogos com o outro e se processa com avanços e recuos, erros e acertos. Reconhece-se que, para o desenvolvimento da Interdisciplinaridade, é fundamental que haja diálogo, comprometimento, participação dos professores na construção de um projeto comum, voltado para o ensino e o processo pedagógico percebido como significativo.
Devemos nos empenhar na desconstrução de um discurso padronizado, das relações autoritárias, possibilitando a relativização dos saberes formais indiscutíveis e valorização do conhecimento sustentado no multiculturalismo, ao considerar o homem na relação com o outro diferente e na sua condição de ser ta nto cosmopolita quanto Kosmopolita4.
Está lançado o desafio aos educadores e psicopedagogos, no sentido de que se esforcem por assumir uma atitude interdisciplinar que possibilite mudanças de percepções e de posturas, tendo como meta as transformações do trabalho educacional significativo e produtivo e o desenvolvimento pessoal integrado.
Teria muito que falar, mas a título de conclusão deste artigo diria apenas que a Interdisciplinaridade, a Psicopedagogia e a Terapia Familiar estão a serviço do desenvolvimento harmônico para favorecer o processo de ensinar e a aprendizagem significativa, em que a compartilha de idéias e de desejos possibilitem o desenvolvimento de uma nova postura do aprendiz e cidadão, frente aos desafios da vida.

Referências
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Endereço para correspondência
Maria Cecilia Castro Gasparian
E-mail:
mcgasparian@uol.com.br


1 Mestre e doutora em Educação PUCSP, pedagoga, psicopedagoga, terapeuta de família. 2 Para estudo mais aprofundado deste tema ver na bibliografia livros dos autores Capra, Morin, Bateson, nos quais me baseei neste momento do trabalho. 3 A dimensão psicológica não se orienta de acordo com o tempo cronológico, mas de acordo com o tempo “kairológico”. Tempo “cronológico”, tão bem representado pela ampulheta, é um tempo sequencial, onde passado, presente e futuro se posicionam em uma ordem total e absoluta, onde cada episódio é irretocável e irreversível sob todos os pontos de vista. Ao contrário do tempo cronológico, o tempo “kairológico” é o tempo do “aqui e agora”. Nele só existe o presente; mesmo o passado e o futuro só existem no presente, ou seja, tudo é “presentificado”, independente de qualquer ordem sequencial. Foi graças à compreensão que os gregos tinham do tempo kairológico que eles puderam inventar o teatro, onde fatos passados e futuros, distantes décadas uns dos outros, são apresentados como instantâneos aqui e agora. Na perspectiva kairológica, passado, presente e futuro são apropriados, reinterpretados e re-inseridos instantaneamente no meu “aqui e agora”. Estas são notas nos encontros do GEPI. 4 Refiro-me ao ser Kosmopolita com “K” para designar um ser que um dia poderá se relacionar com o Universo, através do desenvolvimento de sua espiritualidade e da transcendência.